Thursday, November 17, 2011

Prisão ( Cecília Meireles)

Prisão ( Cecília Meireles)

Nesta cidade
quatro mulheres estão no cárcere.
Apenas quatro.
Uma na cela que dá para o rio,
outra na cela que dá para o monte,
outra na cela que dá para a igreja
e a última na do cemitério
ali embaixo.

Apenas quatro.

Quarenta mulheres noutra cidade,
quarenta, ao menos,
estão no cárcere.

Dez voltadas para as espumas,
dez para a lua movediça,
dez para pedras sem resposta,
dez para espelhos enganosos.

Em celas de ar, de água, de vidro
estão presas quarenta mulheres,
quarenta ao menos, naquela cidade.

Quatrocentas mulheres
quatrocentas, digo, estão presas:
cem por ódio, cem por amor,
cem por orgulho, cem por desprezo
em celas de ferro, em celas de fogo,
em celas sem ferro nem fogo, somente
de dor e silêncio,
quatrocentas mulheres, numa outra cidade,
quatrocentas, digo, estão presas.

Quatro mil mulheres, no cárcere,
e quatro milhões – e já nem sei a conta,
em cidades que não se dizem,
em lugares que ninguém sabe,
estão presas, estão para sempre
- sem janela e sem esperança,
umas voltadas para o presente,
outras para o passado, e as outras
para o futuro, e o resto – o resto,
sem futuro, passado ou presente,
presas em prisão giratória,
presas em delírio, na sombra,
presas por outros e por si mesmas,
tão presas que ninguém as solta,
e nem o rubro galo do sol
nem a andorinha azul da lua
podem levar qualquer recado
à prisão por onde as mulheres
se convertem em sal e muro. (pp.1759-1760)

Monday, September 26, 2011

Sobre pijamas e diversidades

Sobre pijamas e diversidades

Salvador anda muito estranho. Acho que precisamos fazer uma reunião com São Pedro para decidir as prioridades meteorológicas...

No caso, agora, por causa dessa confusão do Santo, tive de comprar mais um pijaminha (extra) para minha Isadora. Coisa tão corriqueira, não? Não em Salvador que, em pleno setembro ainda faz frio nas noites soteropolitanas.

Por este motivo, achei que deveria aumentar o estoque de pijamas quentinhos e fofinhos. Ela já tem alguns com estampas de cachorrinhos, outros de florzinhas, alguns de joaninhas, abelhinhas... Mas esse (que eu achei o máximo da diversidade), era todo ilustrado por bichinhos variados. Elefantes, zebras, hipopótamos, tatus, cabritinhos...

Imaginei um sono todo alegre, com meu bebê envolvido nessa bicharada colorida. A questão foi a seguinte. Um embate, na verdade. O elefante era alaranjado, a zebra era azul, a girafa era verde, o tatu era vermelho... O Hipopótamo roxo...e por aí foi.

Isadora não queria aceitar que, por exemplo, a zebra era azul, com listras esverdeadas... (Cadê a zebra branca com listras pretas ou a zebra preta com listras brancas?)>> Isso é muito sério para uma mãe comum explicar. E eu sou uma mãe comum. Poética, às vezes, mas completamente comum.

Levei horas tentando justificar as cores diversificadas dos bichinhos em questão. Mosttrei todos os livros ( que eu tinha em estoque), as opções de bichinhos na internet... Ela não se convenceu muito, mas pelo menos (acho que pelo cansaço) aceitou vestir a parte de cima do pijama.

Já a parte de baixo: a calça alaranjada combinando com o nariz do tatu. Não teve jeito. Tatu de nariz laranja, não há poesia que dê jeito.

Ok.

Combinamos assim: "Florzinha de mamãe, hoje nem está tão frio.. Só uns ventinhos estranhos.. Vamos só cobrir os bracinhos, ok? E com todos os bichinhos juntos, afinal, eles também estão com certo friozinho...

E a noite se acalmou. Os olhinhos se fecharam. E tudo ficou certo.

Creio... Sinceramente. Que nesse negócio de pijamas e cores, Tudo é apenas um começo. Assim, como na vida.

Nesse momento, por exemplo. Isadora dorme, calmamente, toda envolvida em bichinhos das mais variadas cores. E pasme você, caro leitor, ainda abraçada a uma coruja de olhos enormes castanhos e pelos “nude”..rs


Bons sonhos a todos.

(Adriana Luz)

Sunday, August 21, 2011

Desabafo ou desatino

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Eu não quero transformar meus sonhos em realidade. Todas as vezes em que o fiz, perdi-me... A realidade é chata. É cansativa. Quero, antes do mais tudo, minha realidade em forma de sonhos... Esses que me fazem levantar da cama, ter motivos de atravessar a tarde e anoitecer, para depois em outra realidade, ainda sonhar...

(Adriana Luz - 03 de agosto de 2011)

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A questão é que sou mãe


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A questão é que sou mãe. E meu ser virou seres. Seres, seres e seres (três vezes), eis a(s) razão (ões).

Adriana Luz

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A gente só perdoa o amar

A gente só perdoa o amar. Não o amor. Porque a pessoa quer continuar a estar no estado de amar, continua-se. Mas creio que isso não valha para amizades. O estado de coleguismo é muito raso. Muito menos valha para conveniências. Aliás, não se perdoa erros de conveniências.

Se estamos com alguém por conveniência, não há perdão. Mas, se estamos com alguém "por" e "com" e "para" todo e qualquer estado que nos remeta ao estado de amar... tudo é caridoso... tudo passa a ser doação, tudo se perdoa, tudo se suporta...

(Porque tudo convém)?

E aqui vem a pergunta: isto não seria também um tipo de conveniência?
...
Não sei se São Paulo, quando escreveu aos Coríntios tinha em mente as conveniências das relações...

E nem imagino, em sã ou vã consciência me equiparar a um texto de um autor de há milênios. Porém... se eu falasse a língua dos anjos... dos santos... e dos céus,talvez dissesse: na terra, sem conveniências, nenhum ser, nada seria...

É isso.

(Adriana Luz)

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Coisas

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Às vezes, penso em coisas. Variadas. Como por exemplo, que deveria pensar que o pensamento de nascermos uns para os outros, é ato falho. Deveríamos, antes de tudo, aprendermos a nascer para nós mesmos. Creio que, só assim, teria nascido e pensado (e pensaria) em cuidar melhor de mim.


(Adriana Luz - 20 de agosto de 2011)



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http://migre.me/5wMa9

Wednesday, July 27, 2011

BICHINHO DO CONTO

Conheci hoje esse espaço hoje. Maravilhoso!!!

http://www.obichinhodeconto.pt/

Sunday, October 10, 2010

TEXTOS....

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A questão da escrita e da fala.

É que quando se fala, espera-se ser ouvido. Talvez, espera-se uma resposta. E nem sempre a pessoa que ouviu a mensagem tem uma resposta de pronto. De imediato. Às vezes, é preciso parar, pensar. Analisar a mensagem. Para só depois dar um retorno.

Por isso a importância da escrita.

Recebe-se a mensagem.

Lê-se (ou não) naquele momento.

E o texto – depois de lido – é analisado, guardado, grifado, enfeitado, amassado, xingado, rabiscado, rasgado, incendiado...

Mas o interlocutor (o autor da mensagem), não precisa, necessariamente, saber disso... Ele não precisa saber que você, inclusive, chorou sobre aquelas palavras ridículas, mas tão lindas, tão sensíveis, algumas até com erros de grafia, mas tão cheias de poesia e segredos...

Tão particulares...

Ah... a questão da escrita...

Quisera eu nunca precisar me comunicar com palavras...

Ditas.

Mal ditas.

Se a grafia me bastasse...

Talvez eu me comunicasse...

E somente.. com as escritas...

Estas, sim.

Lindas. E bem ditas.

Amém.


(Adriana Luz – 10 de outubro de 2010)


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O amor. Acontece.
Em silêncio.
Em silêncio. Permanece.
E é assim que tem de ser.
O silêncio alimenta.
E o resto a alma
Tudo sustenta.

(Adriana Luz)

Saturday, September 04, 2010

SOBERANIA - MANOEL DE BARROS





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Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que
tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo
do vento escorregava muito e eu não consegui
pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso
carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos
deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado
e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos.
E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li
alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.
E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria
das idéias e da razão pura. Especulei filósofos
e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande
saber. Achei que os eruditos nas suas altas
abstrações se esqueciam das coisas simples da
terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo
— o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei
um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu
olho começou a ver de novo as pobres coisas do
chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E
meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas
podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as
próprias asas. E vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi.


Texto extraído do livro (caixinha) "Memórias Inventadas - A Terceira Infância", Editora Planeta - São Paulo, 2008, tomo X, com iluminuras de Martha Barros.

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